o primeiro casal ao pecado.
Ainda hoje esta atração tem feito seus estragos dando origem às
mais diversas e bizarras formas de rituais e cultos.
Talvez a falta de “glamour espiritual” tenha sido a razão
principal pela qual os judeus rejeitaram Jesus. Afinal, ele não trazia consigo
nenhuma proposta mística, transcendental, sobrenatural. Ao descrever a vida do
reino espiritual e de como alcançá-la, o Mestre falou “apenas” de paz, alegria,
gozo, amor, serviço, compaixão, relacionamento, etc. Ou seja, Ele falou somente
de coisas naturais. E, convenhamos, aos olhos dos aficionados por calafrios e
experiências sensoriais esta não é uma proposta muito atraente.
A busca incessante por viver o sobrenatural tem alimentado a
criatividade de pessoas que de tempos em tempos (e cada vez com mais frequência)
trazem “novas revelações” e diferentes “moveres”.
A verdade é que o que vemos nos ensinamentos de Jesus é um convite
para uma vida natural cheia de graça e amor verdadeiros. Pois, enquanto seres
naturais que somos (falo por mim) isto é o máximo que conseguimos alcançar. Um
dia, porém, quando enfim formos transformados em seres sobrenaturais passaremos
a viver no sobrenatural, mas aí, este já não será mais sobrenatural, ou seja,
algo além do natural, mas sim, nossa prática de vida natural e eterna. Ela só é
sobrenatural agora porque está além da nossa condição natural.
Atualmente, até mesmo a oração e adoração (entenda-se música) se
transformaram em parte de um processo meio “cármico”, ou de um sistema de recompensas
através dos quais pelo muito se repetir nos tornamos dignos das respostas de
Deus. Fico imaginando alguém que ore durante anos acerca de algo, mas que
depois de muito perseverar desista, deixando de cumprir as “horas necessárias”
para alcançar a graça desejada. Chega a ser ridículo sequer imaginar a cena do
Pai e dos anjos no céu torcendo para que a pessoa chegue ao final da
“quase-penitência” para que então, e só então, desfrute da benção. No mesmo
quadro, imagino um deus (isso mesmo, com letra minúscula) que diz: “óh não, não posso fazer minha vontade nesta
vida porque não houve oração ou adoração (entenda-se música) suficientes. Ela não permaneceu tempo suficiente em minha presença no templo para
que eu pudesse vê-la”.
Algumas dessas ondas “revelacionais” se parecem mais com
tentativas de aplacar a fúria de um deus tirano, e com a bajulação de um deus
vaidoso e mimado que não faz coisa alguma senão pelo esforço extremo de seu
séquito. Um deus que fica sentado, de braços cruzados sendo paparicado até que
decida dar um pouco das migalhas que sobejam de sua mesa farta.
Penso que se fosse para vivermos de modo sobrenatural não haveria
necessidade de termos um corpo natural. Me desculpem os superespirituais e
sobrenaturalistas de ocasião, mas os seres que adoram diante do trono do
Altíssimo não possuem outra função além desta. A minha adoração, que significa
amor extremo, e minha oração, vão muito além dos limites das quatro paredes de
um edifício qualquer, e não se resumem a momentos de rotina pré-estabelecida.
Desde que o véu foi rasgado e o verdadeiro templo Jesus foi destruído e
restaurado para sempre, minha adoração e orações ecoam de qualquer lugar e em
qualquer momento desde que advenham genuinamente do meu coração. Para mim as
atuais “casas de oração” nada mais são do que a reedificação repaginada do
antigo templo judaico, com suas ofertas e sacrifícios.
Uma das justificativas que ouvi para uma certa prática de nossos
dias é de que nos últimos dias o Senhor restauraria o tabernáculo de Davi. Sob
uma expectativa semelhante a esta grande parte do povo judeu será ludibriado em
breve com a reedificação do templo em Jerusalém. Enquanto outros tantos ainda
não se deram conta que a verdadeira “casa de Davi” já foi reedificada, ou seja,
o lugar de adoração já está restaurado no coração do verdadeiro templo, os
salvos em Cristo Jesus.
Se, reunir-se num lugar “especial” e entoar refrões e orações que
mais parecem mantras é sinônimo de restauração da adoração, então seria correto
dizer que o Espírito Santo está falhando em Sua missão em países como a Coreia
do Norte, Irã, Arábia Saudita, Butão e outros tantos onde a “simples” conversão
ao evangelho já é motivo de prisões, açoites e até de morte, quanto mais o
reunir-se em nome de Jesus. Pois, obviamente, em lugares como estes os
“desfiles para Jesus”, as grandes aglomerações, os shows gospel, as gritarias
nos templos, as disputas por fiéis, por púlpitos, por notoriedade, por melhores
ofertas, os novos moveres, novas visões, etc., nem sequer se cogitam.
Desnecessário dizer que o Espírito do Senhor sempre age de maneira perfeita e
que Sua obra se estende por toda parte, cumprindo assim a vontade do Pai
independentemente de governos, políticas, sistemas, religiões ou vontade
humana. Portanto, é óbvio que Deus está restaurando a adoração nestes dias, como,
aliás, sempre fez, afinal sempre que Ele restaura uma vida, esta é atraída para
Seu amor, e como consequência a pessoa passa amá-lo extremamente, ou seja,
passa a adorá-lo, mesmo que não haja o barulho ou as manifestações visíveis às
quais nos acostumamos associar a adoração ou a espiritualidade.
Deixemos, pois de ser como meninos levados por qualquer vento de
doutrina e sigamos a verdade vivendo como filhos maduros de um Pai amado que já
consumou, ou seja, pôs termo, levou a cabo, executou, finalizou todas as coisas
em Seu filho Jesus e, através deste, também em todos os crerem genuína, pura e
simplesmente no evangelho sem fábulas, espetáculos ou mistérios a serem
revelados.
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