16/08/2012

IRRESISTÍVEL ATRAÇÃO

Desde que o homem é homem ele é irresistivelmente atraído pelo sobrenatural, invisível, desconhecido. Foi assim no Éden, a incontida curiosidade para desvendar os mistérios incógnitos de Deus levou
o primeiro casal ao pecado.



Ainda hoje esta atração tem feito seus estragos dando origem às mais diversas e bizarras formas de rituais e cultos.


Talvez a falta de “glamour espiritual” tenha sido a razão principal pela qual os judeus rejeitaram Jesus. Afinal, ele não trazia consigo nenhuma proposta mística, transcendental, sobrenatural. Ao descrever a vida do reino espiritual e de como alcançá-la, o Mestre falou “apenas” de paz, alegria, gozo, amor, serviço, compaixão, relacionamento, etc. Ou seja, Ele falou somente de coisas naturais. E, convenhamos, aos olhos dos aficionados por calafrios e experiências sensoriais esta não é uma proposta muito atraente.


A busca incessante por viver o sobrenatural tem alimentado a criatividade de pessoas que de tempos em tempos (e cada vez com mais frequência) trazem “novas revelações” e diferentes “moveres”.



A verdade é que o que vemos nos ensinamentos de Jesus é um convite para uma vida natural cheia de graça e amor verdadeiros. Pois, enquanto seres naturais que somos (falo por mim) isto é o máximo que conseguimos alcançar. Um dia, porém, quando enfim formos transformados em seres sobrenaturais passaremos a viver no sobrenatural, mas aí, este já não será mais sobrenatural, ou seja, algo além do natural, mas sim, nossa prática de vida natural e eterna. Ela só é sobrenatural agora porque está além da nossa condição natural.


Atualmente, até mesmo a oração e adoração (entenda-se música) se transformaram em parte de um processo meio “cármico”, ou de um sistema de recompensas através dos quais pelo muito se repetir nos tornamos dignos das respostas de Deus. Fico imaginando alguém que ore durante anos acerca de algo, mas que depois de muito perseverar desista, deixando de cumprir as “horas necessárias” para alcançar a graça desejada. Chega a ser ridículo sequer imaginar a cena do Pai e dos anjos no céu torcendo para que a pessoa chegue ao final da “quase-penitência” para que então, e só então, desfrute da benção. No mesmo quadro, imagino um deus (isso mesmo, com letra minúscula) que diz: “óh não, não posso fazer minha vontade nesta vida porque não houve oração ou adoração (entenda-se música) suficientes. Ela não permaneceu tempo suficiente em minha presença no templo para que eu pudesse vê-la”.


Algumas dessas ondas “revelacionais” se parecem mais com tentativas de aplacar a fúria de um deus tirano, e com a bajulação de um deus vaidoso e mimado que não faz coisa alguma senão pelo esforço extremo de seu séquito. Um deus que fica sentado, de braços cruzados sendo paparicado até que decida dar um pouco das migalhas que sobejam de sua mesa farta.


Penso que se fosse para vivermos de modo sobrenatural não haveria necessidade de termos um corpo natural. Me desculpem os superespirituais e sobrenaturalistas de ocasião, mas os seres que adoram diante do trono do Altíssimo não possuem outra função além desta. A minha adoração, que significa amor extremo, e minha oração, vão muito além dos limites das quatro paredes de um edifício qualquer, e não se resumem a momentos de rotina pré-estabelecida. Desde que o véu foi rasgado e o verdadeiro templo Jesus foi destruído e restaurado para sempre, minha adoração e orações ecoam de qualquer lugar e em qualquer momento desde que advenham genuinamente do meu coração. Para mim as atuais “casas de oração” nada mais são do que a reedificação repaginada do antigo templo judaico, com suas ofertas e sacrifícios.


Uma das justificativas que ouvi para uma certa prática de nossos dias é de que nos últimos dias o Senhor restauraria o tabernáculo de Davi. Sob uma expectativa semelhante a esta grande parte do povo judeu será ludibriado em breve com a reedificação do templo em Jerusalém. Enquanto outros tantos ainda não se deram conta que a verdadeira “casa de Davi” já foi reedificada, ou seja, o lugar de adoração já está restaurado no coração do verdadeiro templo, os salvos em Cristo Jesus.


Se, reunir-se num lugar “especial” e entoar refrões e orações que mais parecem mantras é sinônimo de restauração da adoração, então seria correto dizer que o Espírito Santo está falhando em Sua missão em países como a Coreia do Norte, Irã, Arábia Saudita, Butão e outros tantos onde a “simples” conversão ao evangelho já é motivo de prisões, açoites e até de morte, quanto mais o reunir-se em nome de Jesus. Pois, obviamente, em lugares como estes os “desfiles para Jesus”, as grandes aglomerações, os shows gospel, as gritarias nos templos, as disputas por fiéis, por púlpitos, por notoriedade, por melhores ofertas, os novos moveres, novas visões, etc., nem sequer se cogitam. Desnecessário dizer que o Espírito do Senhor sempre age de maneira perfeita e que Sua obra se estende por toda parte, cumprindo assim a vontade do Pai independentemente de governos, políticas, sistemas, religiões ou vontade humana. Portanto, é óbvio que Deus está restaurando a adoração nestes dias, como, aliás, sempre fez, afinal sempre que Ele restaura uma vida, esta é atraída para Seu amor, e como consequência a pessoa passa amá-lo extremamente, ou seja, passa a adorá-lo, mesmo que não haja o barulho ou as manifestações visíveis às quais nos acostumamos associar a adoração ou a espiritualidade.                


Deixemos, pois de ser como meninos levados por qualquer vento de doutrina e sigamos a verdade vivendo como filhos maduros de um Pai amado que já consumou, ou seja, pôs termo, levou a cabo, executou, finalizou todas as coisas em Seu filho Jesus e, através deste, também em todos os crerem genuína, pura e simplesmente no evangelho sem fábulas, espetáculos ou mistérios a serem revelados. 

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