23/04/2012

A IGREJA E A ARCA

Dia desses li a afirmação de um pastor de que “é imensuravelmente melhor estar na igreja com todos os problemas e dificuldades que ela enfrenta do que estar fora dela”. Devo dizer que concordo com esta afirmação desde que estejamos falando DA IGREJA, e não meramente daquilo que se auto-intitula igreja. Sim, porque assim como nem todos os que dizem “senhor, senhor” entrarão no Reino dos Céus, também, certamente nem tudo o que tem uma placa de igreja o é de fato. Assim como é óbvio que nem todos os que seguiam Jesus eram realmente discípulos, posto que a grande maioria desses só estava ali em busca de saciar a fome ou de receber uma cura, ou ainda, apenas para presenciar algum “espetáculo” promovido pelo mestre “fazedor de milagres”. Outros tantos o seguiam com nenhum outro intuito senão o de encontrar n’Ele algum dolo através do qual pudessem condená-lo. Acerca de muitos desses, Jesus disse: “hipócritas, vocês me louvam com os lábios, mas o coração de vocês está longe de mim”. Também é certo que, infelizmente, grande parte do que é tido como igreja em nossos dias não passa de chocarrice fraudulenta e deturpação da verdade.
No mesmo texto o pastor em questão se referia à outra afirmação que alguém teria feito de “que a igreja é como a arca de Noé. Ali dentro havia mal cheiro dos animais e muito trabalho, mas era melhor estar dentro da arca do que fora dela, pois todos que ficaram de fora dela morreram afogados”. Louvo a criatividade do criador da malfadada frase, mas comparar a igreja com a arca de Noé é no mínimo, para ser gentil, um “lapso” no conhecimento da obra redentora consumada na cruz. A igreja, a noiva, que o Senhor vem buscar não é uma igreja que cheira mal, mas sim uma igreja santificada, restaurada, lavada e transformada pelo sangue do Cordeiro. Dizer que uma pseudo-igreja que fede é melhor do que nada, é o mesmo que dizer que é melhor saltar de um avião com um pára-quedas que não abre do que sem nenhum pára-quedas. A aparência pode ser diferente, mas no final, o resultado é o mesmo. Sim, a arca de Noé, que diga-se de passagem é uma figura de Cristo, cheirava mal, mas não por causa das mentiras, falsidades, adultérios, prostituições, desvios de dinheiro, comércio descarado, exploração da fé dos indoutos, auto exaltação, idolatrias, disputas, etc., mas sim, por causa do cheiro natural dos animais e seus dejetos. A arca de Nóe simbolizava a salvação, a vida, o livramento da morte, coisas que não são prerrogativas da igreja, mas sim, única e exclusivamente da pessoa de Jesus, o Salvador. Posso concordar que a única semelhança da antiga arca com parte da chamada “igreja” é o cheiro de estrume e a sujeira produzida por seus ocupantes. Comparar a igreja com a arca é estabelecê-la (a igreja) como instrumento de salvação e esquecer que ela (a igreja) é na verdade fruto da graça e misericórdia pelas quais ela própria foi alcançada pela salvação, e das quais ela (a igreja) é totalmente dependente. A verdadeira igreja - embora esta expressão “verdadeira” seja uma redundância, aja vista que não é igreja de fato aquela que não é verdadeira - é única, o resto é estrume, e desta meu amigo, é melhor estar bem longe. Voltando à máxima de que é melhor estar numa “igreja” fétida do que fora dela, devo acrescentar que em estando fora disso é bem mais possível de se fazer verdadeiramente parte DA igreja. Igreja não é apenas um grupo, grande ou pequeno, de pessoas que se reúnem em nome de Deus, que citam versículos bíblicos conforme a conveniência, que se “orgulham por não serem iguais aos das outras religiões”, que desfilam em manifestações públicas para mostrar o seu poder. Igreja sem cruz não é igreja; igreja sem evangelho integral não é igreja; igreja sem amor que vai muito além de um sorriso forçado num dia de culto não é igreja; igreja onde Jesus não é a razão de todas as coisas não é igreja; igreja onde a Bíblia Sagrada não passa de um manual de auto-ajuda, com “instruções” para vitórias e conquistas não é igreja. Enfim, é melhor ser cego e viver na expectativa de um dia poder ver a luz, do que achar que enxerga e na verdade ter a visão cauterizada pelo engano.

Um comentário:

Cobax disse...

Cara, muito bom o post, jóia mesmo, nos faz pensar realmente no que cremos e o que queremos viver enquanto igreja..