17/02/2011

EVANGELHO EM LIQUIDAÇÃO



           Até parece fim de feira! Acho que estamos vivendo a chamada “hora da chepa gospel”. Quem frequenta feiras de rua sabe que ao se aproximar o término destas, muitos feirantes reduzem drasticamente os preços de suas mercadorias, e, em meio a gritos, tentam de todas as formas ganhar mais alguns "trocados" com as frutas e verduras que restaram. Este cenário pode facilmente ser visto na maioria das “igrejas” hoje em dia. Parece que com a proximidade da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo (é o fim da feira), os “pregadores”, “cantores”, “evangelistas”, etc., estão cada vez mais se transformando em feirantes do Reino. Vendedores de um “evangelho” que precisou ser barateado e ofertado através de gritos, malabares, acrobacias e shows pirotécnicos. Palavras com gosto de “chuchu”, “teologias” de properidade com gosto de pimenta, canções de caldo de cana, ou simplesmente evangelho “mamão com açúcar” fazem parte dos produtos ofertados (mas não de graça, é claro) nos púlpitos por aí.
           Em nossos dias é grande o número de pessoas que tiveram experiências tremendas com Jesus, e também é grande o número de pessoas famosas que tem tido um encontro com Jesus, e tido suas vidas transformadas. Naturalmente que estas experiências despertam o interesse de todos nós, afinal, quem não gostaria de ouvir o testemunho de alguém que morreu e foi ressuscitado por Deus, ou de um ex-satanista que se converteu, ou ainda, de um ator, cantor, piloto, etc., cuja vida foi impactada pelo poder restaurador do Espírito Santo de Deus. Existem também os chamados “mega-pregadores” que “arrastam” multidões dispostas a quase tudo para ouvir as suas mensagens.
          A grande questão aqui não é o fato de as igrejas promoverem cultos e eventos trazendo alguns desses irmãos, mas sim, a espécie de comércio, as condições e valores financeiros exigidos por estes “astros” do púlpito para se apresentarem. A maioria tem um preço fixo, e não atende nenhum pedido que não cubra este valor.
          Um dia eu e minha esposa fomos a um culto em uma igreja em Londres onde haveria a participação especial de uma ex-cantora e apresentadora de televisão que agora serve ao Senhor Jesus. Após o término da celebração nos dirigimos todos à uma sala onde eram servidos lanches e bebidas, e onde também havia sido preparada uma mesa com vários artigos da cantora (CD’s, DVD’s, etc.) que estavam à venda. As pessoas naturalmente se aglomeravam em torno daquela mesa onde estava também a artista famosa, muitos escolhendo e comprando alguma coisa, enquanto outros queriam apenas abraçar, e outros ainda, tirar uma foto com a “estrela” da televisão. Fiquei um tanto quanto chocado ao observar que ela (a artista) se recusava a tirar fotos com alguns irmãos, dizendo que só faria fotos com aqueles que tivessem adquirido alguma de suas mercadorias. 
          Tenho um amigo pastor que certa vez convidou um desses “back street boys” do show business-gospel para vir à sua igreja. Meu amigo ficou estarrecido ao ser comunicado das exigências do “artista celestial”, dentre elas; um carro preto, grande e com os vidros todos pretos (eheee, Michel Jackson).
           Sob a alegação de que “O trabalhador e digno do seu salário” I Tm. 5:18, e que se não fizerem isto não terão como sustentar a si e suas casas, blábláblá, muitos esquecem o que Jesus disse aos seus discípulos ao enviá-los em Mateus 10:8-10: “Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebestes, de graça dai. Não vos provereis de ouro, nem prata, nem de cobre nos vossos cintos; nem de alforje para o caminho, nem de duas túnicas, nem de sandálias, nem de bordão: porque digno é o trabalhador do seu alimento.”   
Jesus também disse: “Não andeis ansiosos pela vossa vida, quanto ao que haveis de comer ou beber; nem pelo vosso corpo, quanto ao que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que as vestes?” Mt. 6:25.
           Certamente existe, mas, confesso que nunca soube que algum desses “artistas do evangelho” tenha ministrado em uma pequena e pobre igreja (do tipo que não pode lhe pagar o cachê), sem cobrar nada, mas, ajudando-a financeiramente. Infelizmente, a maioria deles não visita este tipo de igreja pois não teria “lucro” nenhum.
           Um dia, enquanto esperava o momento de pregar em uma igreja em Portugal, um pastor que também visitava aquela comunidade me disse algo mais ou menos assim: Esta é a segunda vez que venho a Portugal, e espero que desta vez eu consiga ganhar um pouco mais, pois, da primeira não lucrei quase nada”.
           A verdade é que a igreja tem cada vez mais se tornado um lugar de oportunidades de lucros e “espetáculos” de entretenimento. “Temos nos tornado tão “bons” em nossas programações que se o Espírito Santo fosse removido da maioria das igrejas, ninguém iria perceber. Tudo continuaria exatamente da mesma forma, como sempre foi”. – Autor desconhecido.
           Há uma máxima que diz que só existe fornecedor porque existe consumidor. Esta verdade é explícita e infelizmente muito bem retratada todos os dias nos templos ou em qualquer lugar onde se fale em nome de “Deus”. O “mercado eclesiástico” se torna mais e mais aquecido a cada dia, e os consumidores, cada vez mais ávidos por novidades e melhores preços. Em “A Vocação Espiritual do Pastor”, Eugene Peterson diz: “Consumidores religiosos são como qualquer outro tipo de consumidor, facilmente atraídos por embalagens de descontos”.      
            É tempo de abrir os olhos para a verdadeira mensagem de Cristo: “Venham todos vocês que estão com sede, venham às águas; e vocês que não possuem dinheiro algum, venham, comprem e comam! Venham, comprem vinho e leite sem dinheiro e sem custo”. Is. 55:1.


By C. R. ZAGO

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