17/02/2011

“O PASTOR É MEU senhor E NADA ME FALTARÁ”



         Este é um texto adaptado que retrata a infeliz realidade de muitas pessoas que têm na figura de seus pastores ou denominações (ou deveria chamar DOMINAÇÕES) seres ou instituições acima da própria palavra de Deus. E assim, se submetem cegamente aos seus ensinos e doutrinas, sem sequer passá-los pelo crivo das Escrituras Sagradas, e, com isso, incorrendo em sérios erros e desvios.
        “Naquele tempo eu até achava natural que as coisas fossem daquele jeito. Eu nem desconfiava que a vida pudesse ser melhor e que existiam lugares muito diferentes.
        Eu ia à igreja quase todos os dias e vivia dentro do vidro. É, no vidro! Cada pessoa tinha um vidro e o vidro não dependia do tamanho de cada um, não! O vidro dependia apenas do que algumas pessoas achavam que era certo, mesmo que não fosse exatamente o que a Bíblia ensina. O que mais importava é que todos se “moldassem” de acordo o padrão do vidro. O pior é que o vidro tinha um tamanho único e você tinha que usá-lo, mesmo que não coubesse direito nele. Aliás, nunca ninguém se preocupou em saber se a gente cabia nos vidros.  E pra falar a verdade, ninguém cabia direito. Uns eram muito gordos, outros eram muito grandes, uns eram pequenos e ficavam afundados no vidro, nem assim era confortável. Os muito altos de repente se esticavam e as tampas dos vidros saltavam longe, às vezes até batiam nos pastores. Os pastores ficavam loucos da vida e atarraxavam a tampa com força, que era pra não sair mais.
         A gente não escutava direito o que os pastores diziam, e os pastores não entendiam o que a gente falava.
        Geralmente as mulheres ganhavam uns vidros menores que os homens. Ninguém queria saber se elas estavam crescendo depressa, se não cabiam nos vidros, se não respiravam direito. A gente só podia respirar direito nas férias, longe da igreja, mas aí já estávamos tão desesperados, de tanto ficar presos e começávamos a correr de um lado a outro, a gritar, a bater uns nos outros. As mulheres, coitadas, quase nunca saíam dos vidros. E nas férias elas ficavam atrapalhadas, não estavam acostumadas a ficar livres, não sabiam viver fora dos vidros.
         Alguns de nós nunca saíam dos vidros. Estes eram os mais tristes de todos. Nunca se alegravam com nada, não se permitiam brincar, não davam risadas à toa, uma tristeza! Alguns discordavam e reclamavam deste tipo de vida. E então os grandes diziam que sempre tinha sido assim; ia ser assim o resto da vida. Na verdade, a maioria daquelas pessoas sempre tinha usado vidro, até para dormir.
        Certa vez alguém disse ao pastor que existiam lugares onde as pessoas não usavam vidro nenhum, e todos podiam crescer à vontade. Então o pastor respondeu que isso não era de Deus”.


By  C. R. ZAGO


Adaptado do texto de ROCHA, Ruth, Quando a escola é de Vidro. Este admirável mundo louco. Rio de Janeiro: Salamandra, 1986.


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